Marciano Medeiros |
Perfil do entrevistado
Marciano
Batista de Medeiros nasceu em
Santo Antônio /RN, aos 18 de setembro de 1973. É filho de João
Batista de Medeiros e Francisca Viana Salustino Medeiros. Publicou vários folhetos de cordel e inúmeros
perfis biográficos de ilustres personalidades que fazem parte da história do
Rio Grande do Norte. Marciano declara ser admirador da obra deixada pelo maior
cordelista de todos os tempos, o vate paraibano Leandro Gomes de Barros.
Recentemente o poeta ficou em quarto lugar, num concurso de cordel promovido
pelo Centro de Tradições Nordestinas, sediado no Estado de São Paulo. O autor é
o mais jovem imortal da Academia Norte-rio-grandense de Literatura de
Cordel-ANLIC, ocupando a cadeira de número 31, cujo patrono é Luiz Felipe Nerís.
Entrevista concedida ao jornalista
Joaquim Pinheiro
O que representa a criação da Academia
Norte-rio-grandense de Literatura de Cordel?
Foi uma grande e
memorável aquisição, para os persistentes e audaciosos cordelistas potiguares.
Finalmente o sonho acalentado pelo pesquisador Gutenberg Costa foi
materializado, naturalmente com apoio de valorosos companheiros, que muito
contribuíram na organização da Academia. Foram muitas as reuniões acontecidas,
inicialmente na Casa do Cordel, para que as decisões fossem tomadas de modo
democrático. Após debaterem exaustivamente, organizaram todos os trâmites
burocráticos e a Academia tornou-se uma realidade.
A atividade cordelista tem sido reconhecida pelas
autoridades do Estado e do município?
Sem querer ofender ninguém,
observo atitudes isoladas por parte dos representantes do Estado. Quando o
poeta tem um nome feito, no sentindo da divulgação de sua obra, aparecem alguns
projetos e iniciativas interessantes. Agora quando estamos na fase inicial,
fica mais difícil receber apoio, por parte das autoridades que dizem nos
representar.
O que está faltando para que isso aconteça?
Falta sensibilidade
e algumas iniciativas simples. A produção de um folheto de cordel com oito
páginas, numa tiragem de mil exemplares, sai em média por 200 reais, uma
quantia irrisória, para o orçamento de qualquer prefeitura. Os municípios
poderiam promover concursos de cordel, premiando até os terceiros lugares e
publicando os dez melhores trabalhos.
Observo também que poderiam criar fundações de cultura, com gráficas que
realmente funcionassem, sem aquela velha e repetida história, do tem mais tá
faltando.
O cordel precisa ser mais divulgado nas escolas
públicas, por exemplo?
Com toda certeza.
Nossos estudantes precisam conhecer cada vez mais, tão bela manifestação da
cultura nordestina. O cordel desde quando saiu da Península Ibérica, ganhou
características incomuns no território sertanejo. Existe uma emocionante magia,
que deriva para uma forte comoção, quando escutamos a leitura dum romance
falando a respeito de Lampião, ou do bravo Antônio Silvino. Devo relembrar
também, as grandes obras do mestre Leandro Gomes de Barros e de José Camelo de
Rezende, que permanecem como modelos clássicos, até hoje não superados. Autores
a exemplo dos que citei e muitos outros, devem ser conhecidos pelas novas
gerações. Para uma melhor e efetiva divulgação, nossas autoridades deveriam
reeditar os grandes romances da literatura cordel.
O Rio Grande do Norte conta com grandes cordelistas?
Cite alguns nomes para exemplificar?
O Estado potiguar
tem uma particularidade incomum, a maior produção de folhetos inéditos do
Brasil. Trabalhos versando sobre traição conjugal, sobre biologia, biografias e
muitos outros temas, são abordados pelos poetas e poetisas do Rio Grande do
Norte. A Casa do Cordel divulga vários destes trabalhos, numa atitude corajosa
e pioneira, fazendo muito para divulgar o autor iniciante. Tal instituição fica
na Rua Vigário Bartolomeu, pertinho da prefeitura de Natal. Nossos grandes
poetas? Temos muitos, a começar por José Saldanha, falecido recentemente, que
dedicou sua vida ao cordel. Depois posso mencionar Manoel Justino, Antônio
Francisco, Paulo Varela, Crispiniano Neto, Rosa Régis, Xexéu, José Acaci,
Isaias, Abaeté, Hélio Gomes, Manoel Silva, Os Macedo, Américo Pita, Marcos
Medeiros, Boquinha de Mel, Francisco Queiroz e muitos outros que poderiam ser
citados, porém pela exiguidade do espaço nessa entrevista, tenho que resumi-los
nos representativos nomes que acabei de mencionar.
Existe correlação do cordel com a viola?
Existe sim. Toda
cantoria de viola é a iniciada com uma “sextilha,” o gênero mais usado na
elaboração dos folhetos de cordel. Os cantadores de viola são nossos “primos”,
profissionalmente falando, e também nossos excelentes professores. Aquele que
se dedica a escrever o folheto de cordel, não perde nada ouvindo um bom
cantador de viola.
A novela Cordel Encantado deu mais visibilidade a
atividade cordelista?
Já ouvi alguns
protestos dizendo que não. Pessoalmente acho que sim, pois muitos amigos me
diziam: “Lembrei de você assistindo a novela Cordel Encantado.” Pra quem não é
do Nordeste, as autoras Thelma Guedes e Duca Rachid, deram um show de bola,
unificando os enredos clássicos do cordel, aos maravilhosos elementos dos contos
de fadas. O resultado foi excelente, confirmado na audiência que a novela
tinha, prendendo até a atenção dos homens, que viramos noveleiros assumidos,
debatendo acaloradamente as cenas da novela, com nossos familiares e os amigos,
logo após a exibição dos capítulos. Naturalmente a novela não poderia falar só
sobre cordel e mesmo de forma resumida, levou parte da nossa cultura para todas
as regiões do Brasil.
Recentemente você foi empossado na Academia
Norte-rio-grandense de Literatura de cordel. Como recebeu essa honraria e o que
é que isso representa para você?
Fiquei emocionado e
feliz por tão valoroso e importante reconhecimento, conforme já pude externar
ao professor Marcos Medeiros, que me indicou para integrar a recém-criada
instituição e a todos os demais colegas que apoiaram meu nome para poder fazer
parte desta Academia. Desejo a presidenta Rosa Régis e ao seu vice, Hélio Gomes
da Silva, muito sucesso nessa grande e mosaica jornada, que é a unificação dos
cordelistas em terras potiguares.
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